Não perca seu tempo odiando Hugo Motta. Especialmente se você é de “esquerda” ou de “direita”, governo ou oposição. Digo isto desde o primeiro dia em que ele assumiu a presidência da Câmara dos Deputados.
Ele não é uma figura hermética, encerrada em um desses dois lados. Ele fará bem e mal a cada um dos lados alternadamente enquanto estiver na cadeira. E esse roteiro se repete, pelo menos, a cada 15 dias.
Paradoxalmente, do ponto de vista político, como já registrei também em outros artigos, isso é bom para o Brasil sim. Porque num país de loucos é preciso alguém que contenha a loucura dos dois lados em disputa.
Agora, atenção! Se você é brasileiro, somente brasileiro e não ideologicamente afetado, aí o seu direito de revolta pode ser mais definitivo. Não apenas com Hugo Motta, mas como todos que passaram por ali. Porque todos tem apenas um lado, o deles próprios.
Almoçam austeridade, mas vomitam gastança própria. Cobram do Poder Executivo corte nos gastos, mas blindam os seus e, quando podem, vitamina-os. Discursam sobre não aumentar impostos. Mas não abrem mão de cobrar mais receitas.
Fora desse campo de visão, é infantilidade odiá-lo.
Esquerdistas odiaram Hugo sobre declaração do 8 de janeiro. Os bolsonaristas amaram. Direitistas odiaram Hugo Motta por não pautar o projeto da Anistia. Lulistas amaram. Esquerdistas odiaram a votação pro Ramagem, direitistas odiaram a postura inicial contra Carla Zambelli…
Agora, é a vez do governo do PT – e esquerdistas –, à exceção do próprio Lula, atacá-lo em razão da derrubada do decreto do IOF.
É a maior infantilidade atacar Hugo como se ele fosse alguém “definitivamente” definido.
Só o presidente Lula, do alto de sua esperteza política, parece ter compreendido um pouco e evita bater de frente com ele.
Porque definir Hugo Motta de um lado e comprar briga pode, efetivamente, colocá-lo na posição mais confortável de ser de um time apenas e poder agir 100% na mesma linha. O que seria um desastre para o Brasil, como foi Eduardo Cunha recentemente. Seria um desastre se Hugo escolhesse ser 100% oposição ou 100% governo.
O resto é rejeição do povo brasileiro à classe política. Ora, não vi um dirigente congressista nos últimos anos ser amado pelo povo brasileiro. Aliás, o Congresso como todo não goza de um boa imagem. Porque os políticos, em geral, não desfrutam.
Portanto, nem o próprio Hugo teria que se esforçar por isso. A não ser que queira virar o “exterminador de benefícios” da República. Não duraria uma semana no cargo.
Politicamente falando, o que vejo em equívoco em Hugo Motta é que ele se desculpa demais com os dois lados. Pede desculpas à esquerda quando dá uma guinada à direita, pede desculpas à direita quando da um guinada para a esquerda.
Ora, quando for cobrado pela direita ou pela esquerda por uma posição, deveria encará-los e dizer: “Posso ser pior. Você quer?”.
Maquiavelicamente falando, ele precisa apenas não ficar isolado dentro do Congresso, ou seja, manter sua parceria com o Centrão e com Davi Alcolumbre, presidente do Senado. E como se faz isso? Fazendo o que eles sabem fazer: defendendo os próprios interesses, que vão de liberação de emendas ao aumento de fundo eleitoral, de proteção contra ações criminais a aumento do número de cadeiras.
Sim, não preciso dizer que estar forte na Paraíba é fundamental porque é preciso ter, ao menos, o mandato de deputado federal, para poder ser presidente da Câmara.
Mas, falando de Brasília, se estiver internamente forte, por outras razões que não as ideológicas, ou seja, se for um defensor corporativista dos seus, pode sorrir menos para os dois lados extremos.
Fazendo bem e mal para cada um. E até sendo odiado pelos dois extremos ao mesmo tempo. Mas sendo, simultaneamente, temido por ambos os lados.
Que passariam a latir menos enquanto Motta passa.
LUIS TÔRRES
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